Manejo com glicina-betaína para maior produtividade do algodão sob estresse
Por Milton Akio Ide, Fabiano Andrei Bender da Cruz, Mônica Cagnin Martins, Sarah Jane Alexandre Medeiros, Angela Valentini GorgenDurante o ciclo de crescimento das culturas, fatores climáticos têm um impacto direto no metabolismo e no desenvolvimento das plantas. Variações significativas na temperatura, precipitação, radiação solar, salinidade e umidade do ar podem induzir estresse nas culturas, diminuindo potencial produtivo. Assim, é essencial decifrar os fatores de tensão e compreender a interação entre as plantas e seu ambiente. A identificação e a mitigação dessas fontes de estresses abióticos desempenham um papel fundamental na melhoria da resiliência das plantas e, consequentemente, na produtividade das culturas.
A perturbação na planta leva a alterações nas vias bioquímicas e moleculares, interferindo em diversos processos fisiológicos, reduzindo fotossíntese, absorção e translocação de nutrientes, alterando o funcionamento normal dos estômatos, fatores que limitam o crescimento e desenvolvimento da cultura. Quando expostas a estresses, as plantas ativam seu sistema bioquímico de defesa, o que induz a um aumento na produção de Espécies Reativas de Oxigênio (ROS, do inglês, Reactive Oxygen Species). A superprodução de ROS pode causar danos oxidativos nas macromoléculas, como DNA, RNA e proteínas, resultando na morte celular. No entanto, as plantas possuem estratégias de adaptação, como a produção de compostos que se acumulam nas células para auxiliá-las contra os fatores ambientais de estresse. Esses compostos são conhecidos como “osmoprotetores”, auxiliando as plantas a lidarem com o estresse osmótico.
Entre os osmoprotetores, a Glicina-Betaína (GB) destaca-se como um dos mais eficazes. Ela atua minimizando o dano oxidativo causado pelo estresse, além de promover a eficiência fotossintética, o fluxo de água, a redistribuição de nutrientes e o estímulo ao enraizamento. A GB também desempenha um papel crucial na estabilização das estruturas proteicas e na regulação das atividades enzimáticas. A adição de GB exógena à planta pode reduzir o consumo energético normalmente exigido pelo anabolismo das plantas, que é a síntese de moléculas complexas a partir de outras mais simples no interior das células vegetais.
A aplicação de GB na cultura do algodão tem demonstrado benefícios significativos, especialmente para plantas submetidas a estresses abióticos. Ela promove a melhoria da estrutura e das características dos estômatos, que são fundamentais para a regulação do equilíbrio hídrico da planta. Dessa forma, a GB se destaca como um recurso precioso na agricultura, contribuindo para a resistência das plantas diante de adversidades ambientais e potencializando tanto a produtividade quanto a qualidade das culturas.
Tendo em vista os benefícios significativos da GB na resistência das plantas a adversidades ambientais, bem como seu potencial para aumentar a produtividade e a qualidade das culturas, realizou-se um estudo para avaliar o impacto do fertilizante foliar Glyfort, rico em GB, na cultura do algodão. O estudo envolveu cinco tratamentos, conforme detalhado na Tabela 1. O experimento foi conduzido com a cultivar de algodão FM 978 GLTP RM em uma área experimental situada no município de São Desiderio, Bahia, durante a safra de 2022/2023, com precipitação pluviométrica acumulada de 608,2 mm, montante abaixo de 60% da média, forte responsável pelo aumento dos estresses nos cultivos sequeiros.


Os resultados revelaram a maior produtividade do algodão em caroço em todos os tratamentos com Glyfort, adicionando até 26,0 @ ha-1 no tratamento 4, com 5 aplicações de 0,3 L ha-1, em relação a testemunha (Figura 1). Esse resultado confirmou os benefícios potenciais do produto a base de GB sobre o desenvolvimento do algodão, podendo também ser promissor para diversas outras culturas.
