Micronutrientes no solo, na folha ou em ambos, qual o melhor resultado?
Por Ricardo de Andrade Silva e Angela Valentini GorgenOs micronutrientes, mesmo presente em pequenas quantidades nos tecidos das plantas, são essenciais para o seu desenvolvimento. A deficiência de micronutrientes compromete o crescimento, a nutrição e a produtividade das culturas, pois são mediadores de atividades enzimáticas, especialmente na fotossíntese (Prado, 2021). A eficiência da maioria dos micronutrientes no solo é dependente do pH, quanto mais alcalino, menor a disponibilidade dos mesmos. Assim, em sistemas produtivos, com uso frequente de calcário, sempre há a dúvida: realizar ou não a micragem no solo?
A nutrição foliar é uma ferramenta importante para melhorar os processos fisiológicos e bioquímicos das plantas, resultando em altas produtividades (Hong et al., 2021) e auxiliando na demanda de nutrientes limitados na solução do solo.
No entanto, como a zona de maior assimilação de nutrientes é a raiz, a capacidade de absorção nutricional por via foliar é questionada, assim como a eficiência dos vários tipos de fontes disponíveis no mercado.
A discussão sobre a fertilização de micronutrientes se dá por uma série de razões:
1) baixa disponibilidade do boro (B), cobre (Cu), manganês (Mn) e zinco (Zn) em solos tropicais;
2) cultivos a longo prazo que resultam na remoção de micronutrientes do solo;
3) associação dos nutrientes com compostos fisiológicos específicos;
4) aumento do rendimento das culturas com maiores taxas de exportação de micronutrientes em grãos e em outros produtos colhidos;
5) elevação da qualidade do perfil do solo;
6) substituição de fertilizantes ricos em micronutrientes por fontes concentradas em elementos específicos.
Para responder algumas dessas questões, foi realizado um experimento instalado na área de pesquisa da Solo e Planta Consultoria, na cultivar Monsoy 8349 IPRO, em solo com características médias gerais do Oeste da Bahia. O pH (CaCl2) do solo anterior ao cultivo foi de 5,25 e os níveis de micronutrientes abaixo do adequado, na camada de 0-20 cm: B com 0,55 mg dm-3, Cu com 0,75 mg dm-3, Fe com 53,32 mg dm-3, Zn com 0,90 mg dm-3 e Mn com 3,36 mg dm-3. O solo foi corrigido com a incorporação de 2 t ha-1 de calcário e 400 kg ha-1 de gesso. A adubação de base foi com 80 kg ha-1 de P2O5 e a cobertura com 90 kg ha-1 de K2O.
Na complementação via folha, foram realizadas 3 situações práticas utilizadas a campo na região. A primeira com doses equilibradas de micros, menores de macronutrientes complementado com compostos fisiológicos. A segunda com doses médias de micros e macronutrientes complementado com compostos fisiológicos. A terceira com aumento de doses de micros e macronutrientes, sem adição de compostos fisiológicos. No trabalho, esses tratamentos estão descritos como “Completo”, “Padrão” e “Mais gramas”, respectivamente, e as gramagens estão descritas na tabela 1.
Avaliou-se os manejos de nutrição foliar nas áreas com e sem micronutrientes no solo. Os nutrientes foram aplicados na base e as doses utilizadas foram para B e Mn foram de 0,6 kg ha-1 e para Cu e Zn a dose foi 2,0 kg ha-1, via formulação oxisulfato.

Todos os tratamentos tiveram incremento em produtividade, melhorando em até 8,5 sc ha-1 no tratamento Solo + Padrão (Figura 1). Ou seja, mesmo em solo com anos de cultivo, manejado tecnicamente, a aplicação de micronutrientes no solo, complementado com nutrição e fisiologia na folha gerou resultados expressivos.

Isoladamente, os resultados mostraram que o manejo de micronutrientes diretamente na base do solo incrementou em 1,3% a produtividade frente a testemunha (Figura 2).
Quanto aos programas de manejo foliares, os tratamentos Completo, Padrão e Mais gramas incrementaram a produtividade em 3,5%, 11,5% e 6,2%, respectivamente (Figura 3).
Já a combinação da aplicação de micronutrientes no solo com os manejos foliares Completo, Padrão e Mais gramas alavancaram a produtividade em 8%, 15% e 8,8%, respectivamente, em relação a testemunha (Figura 4).
Evidenciou-se que quantidades de nutrientes via foliar muito além ou aquém da demanda da cultura geram incrementos menos significativos que a recomendação padrão, devendo-se observar a realidade de cada cultivo, genética, potencial, fertilidade, condições edafoclimáticas da região, entre outros fatores que influenciam na extração dos nutrientes. E o manejo associado solo-nutrição-fisiologia é o que promove maiores resultados em produtividade na cultura da soja.

Os resultados obtidos respondem as perguntas. Considerando o solo com teores médios de fertilidade, em ano com realização de calagem, adição de fósforo, potássio, magnésio, enxofre e potenciais fatores de redução da eficiência dos micronutrientes, a adubação com eles no solo sozinha foi menos eficiente no incremento da produtividade do que a nutrição com fisiologia foliar, mas o sinergismo entre eles entregou um salto em produtividade em relação à testemunha.
Esse experimento confirma que, para o aumento da produtividade da soja, é responsiva a utilização de macros e micronutrientes na folha associados a correção dos micronutrientes no solo. Isso porque os melhores resultados (Padrão e Solo + Padrão) retornaram 3,1 e 3,25 vezes o investimento (Figura 5), número importante para a cultura da soja.
Ou seja, o melhor custo-benefício é respeitar o manejo integrativo entre solo, planta e ambiente, observando os parâmetros de potencial e extração, onde nem sempre o maior investimento é melhor para o sistema produtivo, mas manejar com conhecimento da realidade de cada área gera grandes resultados.

Referência Bibliográfica:
Hong, J., Wang, C., Wagner, D. C., Gardea-Torresdey, J. L., He, F., & Rico, C. M. (2021). Foliar application of nanoparticles: mechanisms
of absorption, transfer, and multiple impacts. Environmental Science: Nano, 8(5), 1196-1210.
Prado R.M. (2021) Mineral nutrition of tropical plants. Mineral Nutrition of Tropical Plants. Austria, Springer Cham. 339p.